Vitamina D e sua relação com a longevidade.
- Vinícius Altafim
- há 7 dias
- 3 min de leitura
Atualizado: há 17 horas
O estudo científico a seguir é um ensaio clínico randomizado, o tipo de estudo mais forte para descobrir se algo funciona ou não, porque divide os participantes aleatoriamente em grupos de pessoas que ingeriram a vitamina D e um grupo placebo que não ingeriu.O estudo teve como objetivo avaliar se a utilização da vitamina D está associada à redução da mortalidade em adultos. Esse estudo avaliou outros 52 estudos que foram conduzidos em diversos países diferentes, totalizando 75.454 participantes. Isso se chama meta-análise, quando se realiza um estudo sobre vários outros estudos, o que resulta em maior grau de confiabilidade acadêmica.Mais de 25 mil pessoas fizeram parte do grupo que recebeu a vitamina D. Eram adultos homens e mulheres acima de 50 anos, todos saudáveis no início, sem deficiência grave de vitaminas. A dose utilizada nos participantes foi de 2.000 UI por dia de vitamina D3. Essa dosagem foi escolhida por ser considerada uma dose segura.Os participantes tomaram vitamina D todos os dias durante 5 anos.
Grupo que não tomou a vitamina D ou grupo placebo.Os participantes que não ingeriram a vitamina D receberam, durante 5 anos, um comprimido vazio sem a vitamina D. Isso acontece para permitir comparações reais no final do estudo entre as pessoas que ingeriram a vitamina D e as que não ingeriram.
O monitoramento durou 5 anos e cada participante preencheu um questionário clínico sobre saúde, histórico familiar, alimentação, atividade física e uso de suplementos. Alguns participantes forneceram amostras de sangue para medir níveis iniciais de vitamina D. O acompanhamento continuou semestralmente e anualmente. Os participantes recebiam questionários clínicos por correio, sendo questionários menores a cada semestre e questionários mais completos anualmente. Em eventuais problemas médicos envolvendo doenças como câncer, infarto, AVC ou hospitalização, os pesquisadores solicitavam prontuários médicos oficiais. Uma parte dos participantes que suplementaram com a vitamina D teve amostras recolhidas para medir a evolução do nível de vitamina D, o que mostrou que realmente houve um aumento de vitamina D no grupo que suplementou.
Os resultados do estudo mostraram que a diferença entre o grupo que recebeu vitamina D e o grupo que não recebeu vitamina D em relação à mortalidade por câncer, considerando o período completo do estudo, foi pequena e quase igual entre os grupos. Portanto, a vitamina D, nesse caso, não se mostrou eficaz para prevenir o desenvolvimento de câncer.
Os resultados da vitamina D contra problemas cardiovasculares, como infarto, AVC e morte cardiovascular, também se mostraram insignificantes. A diferença entre os dois grupos foi mínima, o que demonstra que a vitamina D não preveniu doenças cardiovasculares.
A parte mais interessante do estudo é que a vitamina D reduziu a mortalidade por câncer entre 17 por cento e 25 por cento quando foram excluídos os primeiros 1 a 2 anos de análise. Esse dado não é conflitante com os dados acima. Em termos simples, quando os primeiros anos de suplementação não são considerados, evita-se incluir mortes de pessoas que já estavam com câncer antes de iniciar o estudo. Ao analisar apenas as pessoas que desenvolveram câncer durante o estudo, observou-se que aquelas que suplementaram com vitamina D tiveram um nível de mortalidade entre 17 por cento e 25 por cento menor em comparação com o grupo placebo.
Isso significa que, entre 100 pessoas que morreriam de câncer no grupo placebo, apenas cerca de 75 morreriam no grupo que tomou vitamina D. A vitamina D não previne o aparecimento do câncer, mas as pessoas que suplementaram com vitamina D tiveram uma redução de morte por câncer de até 25 por cento.
O estudo analisado é conhecido como VITAL Trial, sigla para Vitamin D and Omega-3 Trial. Ele foi conduzido por pesquisadores da Harvard Medical School em parceria com o Brigham and Women’s Hospital, ambos localizados em Boston, nos Estados Unidos. A liderança científica ficou a cargo da epidemiologista JoAnn E. Manson, uma das pesquisadoras mais respeitadas na área de saúde pública e vitaminas.
O artigo principal que apresentou os resultados oficiais do VITAL Trial foi publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine, uma das revistas de maior prestígio internacional. A publicação ocorreu em 2018 e descreveu de forma detalhada como a suplementação diária de vitamina D3 foi investigada ao longo de vários anos em adultos acima de cinquenta anos para avaliar possíveis impactos na prevenção de câncer e doenças cardiovasculares.
Além do estudo clínico principal, também há uma meta-análise que avaliou cinquenta e dois ensaios clínicos randomizados sobre suplementação de vitamina D e mortalidade geral. Essa revisão foi publicada no British Medical Journal e reforça a interpretação dos resultados por meio da análise conjunta de mais de setenta e cinco mil participantes provenientes de diversos países.
A meta-análise citada no texto é:
Zhang, Y., Fang, F., Tang, J., Jia, L., Feng, Y., Xu, P., Guo, X., et al.Association Between Vitamin D Supplementation and Mortality: Systematic Review and Meta-analysis.BMJ (British Medical Journal), 2019.
Comentários